O ateísmo como fé

Não sendo possível provar a existência de Deus, sua inexistência é igualmente impossível de refutar. O ateísmo é uma fé. Devoção na negação. Uma religião sem igreja.

O que o dinheiro não compra

O dinheiro compra tudo? 

Ele compra uma biblioteca, mas não compra a sabedoria. 

A estupidez humana é de graça, abundante e inesgotável. 

O triplo dilema da propriedade

O triplo dilema da propriedade consiste em ter para que os outros não tenham; ter como os outros e ter com os outros.

Qual seja, ao fim e ao cabo tudo se reduz a transitoriedade inerente da posse. 

Do verme ao parasita

Machado de Assis é o primeiro que propõe  a especialização do verme para o parasita. Verme somos todos - assim sustentava a lógica  darwinista. Mas diante dessa vérmina é necessário indicar os parasitas. Foi exatamente o que o bruxo do Cosme Velho fez ao descrever os vermes parasitas, diagnosticando uma espécie de parasitose social, um problema de saúde coletiva ( já que ele se refere a um grupo) e pública (os funcionários públicos), especializando os vermes, (des)classificando-os. Não é estético o juízo que se deve ter do verme (visto que sua aparência é diversa), mas da sua função no tecido social.

O sentido do verme está ligado a forma (vermiforma). Tanto que vermilingue é termo usado pela zoologia para classificar mamíferos de língua comprida e cilíndrica, à semelhança do verme. Parasita é o sentido do verme que se desloca da sua forma para a sua função, dando a melhor conhecê-lo pelo nome.

Sobrenatural e ciência

Sigmund Freud interpreta os sonhos sobre o pressuposto de que existia um período pré-científico em que os sonhos eram interpretados como manifestações místicas, sobrenaturais. Guardado o que sabemos ser próprio e mesmo devido ao tempo histórico do autor, não se pode chamar de “período” o que é uma categoria de pensamento que sempre esteve presente na cultura. Também não chamaria de pré-científico pela mesma razão. A ciência é tão antiga quanto o pensamento racional e lógico manifestado na mente humana pela primeira vez. O pensamento científico não é, portanto, um advento — Freud deve ter se referido ao pensamento científico moderno. Ele ainda pertence a época de uma fé romântica na ciência, chamando de instruídos os que entendem o sonho como uma ato psíquico de quem sonha, como se não houvesse instrução em uma interpretação sobrenatural. O sonho como manifestação mística é algo que não se pode sistematizar em um método. Pois é a verdade revelada apenas para quem sonha, já que é para ele que o sobrenatural se manifesta. Nesse sentido é interpretação não universal, o que a separa da ciência. A verdade da experiência místico é absoluta e revelada sem pesquisa.

Sobre a propriedade privada

É notável que a propriedade privada ganhou tanto valor na sociedade moderna que seu direito foi incluído no rol dos direitos humanos acabando por naturalizá-lo à partir de concepções filosóficas a-históricas e a-culturais, desconsiderando os mais relevantes estudos antropológicos que demonstraram que em diversas sociedades humanas a propriedade privada não existe. 

Mudança

As coisas que tenho no meu lar dão forma singular para o espaço. Sem elas é só o geometrismo frio de um apartamento padrão. A gente vai guardando tudo e tudo fica encaixotado pra levar com a gente e abrir no momento oportuno. Enquanto quebram algumas coisas, outras tantas aparecem e se descobre quanta coisa de nada mais nos servem. Todo dia é uma despedida vai ficando um saudosismo de uma vida que passou por ali e que vai ficando esquecida. Até que, enfim, o novo!A nova morada,  algumas coisas iguais, amesma vida...

A sombra

No jogo da linguagem de E. A. Poe, o par de opositores "definido" e o "indefinido", carregam o sentido de "substância" e de "sombra", respectivamente. A sombra como fenômeno natural é produzida pela luz ao ter seu espectro de incidência interrompido por um objeto ou ser (substância) que, ao torná-lo visível, claro, produz sua sombra - o negativo desse objeto ou ser projetado em um meio. Como projeção, a sombra necessita desse meio para ser projetada. Precisa também de uma fonte de luz. A silhueta da sombra são os contornos da realidade. Naquilo que a sombra esconde, se revela. Por isso, nunca é ausência. A sombra se projeta contornada por uma aura de luz. Se a sombra existe, então existe luz. Não há sombra sem luz. A luz, por sua vez - é claro! -, independe da sombra para existir.  Dito de outro modo, a luz existe sem a sombra, contudo a sombra não existe sem a luz. A dúvida sobrenatural é se a sobra pode se manifestar como substância.

Camadas da história.

A história é feita por camadas que se sobrepõe. Ao fim de 100 anos pouca coisa restará na superfície.  

Pirataria cultural

Quando a pirataria cultural não tem como fim o lucro, considero uma atitude louvável de resistência.

A representatividade do parlamento

Críticos dizem que não há real representatividade da sociedade brasileira no parlamento.  Discordo. O parlamentento é o espelho da sociedade brasileira. Uma sociedade racista, machista, homofóbica, dotada de uma falsa moral religiosa,  porofóbica, que se entrega apaixonadamente aos artifícios de ilusão da imagem e do discurso, dando seu voto para qualquer sujeito branco, bem vestido, carismático e que reproduza em seu discurso tudo aquilo que ela acredita mas não foi capaz de dizer. Não há representatividade política da sociedade brasileira, mas há representatividade ideológica. A classe trabalhadora, sendo maioria, não está majoritariamente representada politicamente. Mas ilusoriamente acredita que está ao eleger políticos que se valem da sua ignorância e alienação.

Sobre o propósito

Propósito é palavra da moda no mundo corporativo. Como estamos cansados de ouvir, no sistema capitalista tudo se transforma em mercadoria, inclusive os valores. É atual a ideia de que o trabalho ou atividade profissional deve ter um propósito. Coisa que só é possível para uma ínfima parcela da população, visto que a maioria se vê obrigada aceitar as demandas do mercado de trabalho que impõe formações e funções. Dizem, estupidamente, que o trabalhador deve encontrar seu propósito independente da função que exerça. Ou seja, é possível encontrar propósito em qualquer atividade profissional. O mercado assimila esses valores para capitalizar seus produtos. Eles dizem, por exemplo, que você está comprando determinado produto para ajudar alguém ou uma instituição. Este é o seu propósito. Contudo, para ajudar você precisa consumir um produto específico cujo único propósito  é vender, e vender naquela empresa. Uma jogada de marketing mal disfarçada. O propósito é encher ainda mais o bolso dos grandes empresários que assim cederão uma ninharia de seus lucros para determinadas pessoas ou instituições. É o própria falta de propósito. Ou melhor dizendo, o propósito é aumentar seus lucros.

Sobre envelhecer

Os anos da velhice são pródigos em novidades! Envelhecer é descobrir novas dores, outras formas de sofrer.